Postalis apresenta prejuízo com dívida argentina

 Postalis, fundo de pensão dos funcionários dos Correios, está apresentando prejuízo com aplicação em títulos lastreados na dívida argentina. A fundação é a única cotista de um fundo que tem esses papéis em carteira e, após o calote do governo da Argentina, sofreu perda de metade de seu patrimônio, o equivalente a R$ 190 milhões. As informações são do jornal Valor Econômico.

Essa perda pode complicar a já difícil situação do Postalis, que tem R$ 1 bilhão de déficit, condição que desde o ano passado vem exigindo contribuições extras dos Correios e dos participantes. A fundação tem R$ 8 bilhões de patrimônio e 140 mil participantes.

O administrador do fundo Brasil Sovereign II Fundo de Investimento de Dívida Externa (Fidex), o BNY Mellon, divulgou comunicado informando que, diante da suspensão do pagamento dos títulos de dívida externa argentina, que servem de lastro para títulos privados detidos pelo fundo, foram realizadas provisões para perdas, com impacto negativo de 51,48% do patrimônio do fundo.

De acordo com o dado mais recente disponível na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Brasil Sovereign II tinha patrimônio de cerca de R$ 375 milhões em junho.

No comunicado, o BNY Mellon informa que as provisões também foram feitas por conta da necessidade de mudança na metodologia de avaliação de alguns títulos de dívida privado, conhecidos como "credit-linked notes", títulos emitidos por instituições financeiras no exterior relacionados a outros créditos. Os papéis lastreados na dívida argentina também são desse tipo.

O Postalis informou, via assessoria de imprensa, que o fundo estava desenquadrado. "O investimento feito nesse fundo previa a aplicação de pelo menos 80% do valor em títulos da dívida pública externa brasileira. Os títulos foram trocados por outros ligados à dívida argentina, à revelia do Instituto e contra o regulamento do Fundo", diz em comunicado.

"Desde que tomou conhecimento do assunto, a diretoria executiva contratou escritórios de advocacia no Brasil e nos Estados Unidos para a adoção de medidas jurídicas em defesa dos interesses do Instituto, que estão em curso em ambos os países", informa o Postalis.

Mas esta não foi a única notícia negativa contida no comunicado do BNY Mellon desta semana. O administrador também informa que teve acesso a "informações sugerindo que o FIDEX pagou valor superior àquele efetivamente devido para a aquisição" de alguns "credit-linked notes". O valor excedente apurado é de cerca de US$ 79 milhões. O BNY Mellon esclarece que o investimento foi feito pela antiga gestora do fundo, a Atlântica Administração de Recursos, em 2011. "Esta decisão de investimento foi feita pelo gestor do fundo de investimento escolhido pelo Postalis e nós não somos responsáveis por ela", diz nota do BNY Mellon enviada pela assessoria de imprensa. "O BNY Mellon notificou as autoridades brasileiras relevantes sobre este assunto e está à disposição para ajudá-las no que for necessário."

Esta, porém, não é a primeira vez que são constatadas irregularidades na gestão de recursos do Postalis pela Atlântica. Em 2012, a Securities and Exchange Comission (SEC), reguladora do mercado de capitais americano, investigou acusação de fraude contra dois ex-corretores de valores mobiliários que operavam em Miami e cobraram taxas excessivas do Postalis. Um deles era Fabrizio Neves, sócio da Atlântica. A fundação teria pago US$ 24 milhões a mais do que o devido em comissões em operações com notas estruturadas.



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