A importância da educação financeira para a Geração Z

Andréa Dionísio M. de O. Assis*

Satisfazer necessidades ilimitadas com recursos escassos. Eis o grande objetivo da Ciência Econômica. O ser humano, por sua natureza, é insaciável.  Seus desejos se transformam em necessidades num passe de mágica. Se temos uma bicicleta, buscamos um motivo para termos uma moto. Compramos a moto e, em pouco tempo, precisamos de um carro popular. Do carro popular, logo queremos um carro esporte, de luxo, e por aí vai. Mas, infelizmente, na maioria das vezes, não nos organizamos de maneira muito eficiente para conquistarmos o tão sonhado objetivo. Ao invés de  poupança, fazemos financiamentos a longo prazo e acabamos por comprometer nossa renda.

E por que isso acontece? Onde foi que erramos? Trabalhamos mais e mais a cada dia, mas não conseguimos equilibrar nossos orçamentos. Assim, só nos resta buscarmos a ajuda de terceiros – especialistas da área financeira. E se começássemos a aprender sobre finanças ainda quando crianças? Será que seria diferente?

Todos nós sabemos que a capacidade de aprendizado de uma criança é bem maior que a de um adulto. Isso porque na infância ainda nos encontramos despidos de preconceitos, vícios, e ideias pré-concebidas. O que realmente aprendemos quando pequenos nos acompanha durante toda a vida. Já dizem os mais velhos: “É de pequenino que se torce o pepino”. “Mas, criança mexendo com dinheiro? Dinheiro é coisa e preocupação de adulto. Eles não tem o mínimo de maturidade para isso”. Será mesmo? Essa meninada é tão “infantil” assim como imaginam boa parte das pessoas? Dinheiro é algo tão perigoso, assim?

Em pleno século XXI existe a convivência entre três gerações bens específicas: X, Y e Z. A geração X (nascidos entre 1960 e 1980), também conhecidos como Baby Boomers, chegou à idade madura e descobriu que não é tão simples juntar meio milhão e ter acesso à tão sonhada casa própria, pela qual provavelmente irá pagar até seus 60 anos. O caminho é longo e o preço é bem alto; às vezes, impagável. Para tanto, cresceu imbuída da ideia de ter que fazer uma boa faculdade, de preferência, Medicina, Engenharia ou Direito (seus pais fazem questão desse detalhe) e, com isso, precisam passar em um concurso público a todo custo para terem ‘estabilidade’. À sua volta os filhos crescem, os pais morrem, os sonhos envelhecem e as férias exóticas para a Finlândia, Marrocos ou Jamaica nunca são tiradas. Sua prioridade é o trabalho.

Entender e conviver com o mundo das finanças, só depois da maioridade. Mesmo porque, seus pais já prepararam o “terreno” para seu crescimento profissional e familiar. “Se estudarem em uma boa universidade e conseguirem um bom emprego, seu futuro estará garantido.” Palavras de papai e mamãe. As mudanças em termos político e econômico no período em que nasceram e cresceram eram bastante improváveis.

A geração Y (nascidos entre 1980 e 1990) cresceu tendo o que muitos de seus pais não tiveram, como TV a cabo, videogames, computadores, vários tipos de jogos, e muito mais. Se a geração X acompanhou o advento da internet e a tecnologia, a geração Y já nasceu quando as mesmas estavam plenamente desenvolvidas, cresceram e as internalizaram desde pequenos. Seus pais também não acreditam que eles sejam maduros para mexerem com dinheiro.

E pior ainda: querem suprir a falta da presença física (muito trabalho) por facilidades e uma vida melhor do que tiveram. Eles cresceram vivendo em ação, estimulados por atividades, fazendo tarefas múltiplas. Acostumados a conseguirem o que querem, acabam por não aprender com propriedade o significado da palavra VALOR. Em todos os sentidos. Mas como a quantidade de informações que chegam até eles é bem maior do que tinham acesso seus pais, também são inquietos. Não se contentam com pouco. Apesar da instabilidade econômica que marcou essa década, não se sentem responsáveis e nem mesmo preocupados com as mudanças sofridas no orçamento familiar. Afinal, seus desejos são sempre atendidos pelo papai e pela mamãe.

Enfim, chegamos à geração Z (nascidos a partir de 1990). Esses jovens e crianças nasceram no auge da globalização. Não participaram dos principais movimentos políticos e econômicos que mexeram com a humanidade. O muro de Berlim, a Guerra Fria, a Ditadura Militar, Movimento Diretas Já, inflação de 87% ao mês, impeachament de presidente, são simples fatos históricos que aprendem na escola. Mas, por outro lado, são conscientes do que acontece diariamente no mundo. São extremamente conectados (até demais, às vezes) com a realidade por meio de seus equipamentos eletrônicos de última geração.

São jovens com uma inteligência bastante desenvolvida, capazes de entenderem e explicarem um mapa do Google Maps antes mesmo que seus pais abram seus antigos mapas de papel. A economia e a política mudaram consideravelmente a forma de consumo das pessoas nesse período. Produtos e necessidades surgem aos montes todos os dias. Os serviços aparecem como uma opção de negócio bem rentável. Acompanhar todo esse movimento requer muito esforço.

Tudo muda do dia para noite. Não existe mais a palavra ‘estabilidade’. O momento é de mudanças contínuas. E agora? Será que essa turma não deve estar preparada para enfrentarem a incerteza do futuro? Vamos continuar acreditando que “dinheiro é coisa de gente grande”? É hora de revisarmos nossos conceitos de maturidade e responsabilidade.

Quando a criança aprende o que é realmente importante, ela cresce com expectativas coerentes e bastante plausíveis. Dar a ela a oportunidade de controlar o que lhe é oferecido, em termos monetários, é ajudá-la a encontrar a segurança que falta para muitos adultos das gerações X e Y. Mostrar que, quando tudo o que tem é consumido de uma só vez, fará com que ela tenha que se privar do que gosta posteriormente. Isso lhe ajudará a crescer.

Por outro lado, descobrir que, juntando o troco do lanche da escola dará a ela a chance de adquirir o tão sonhado tablete ou smartphone no final do ano, estimula seu senso de responsabilidade e sua capacidade de sonhar e buscar realizar seus sonhos. E o principal: mostrar a ela que “ser é muito mais importante do que ter” com certeza vai transformá-la em um ser humano muito mais feliz.

*Andréa Dionísio M. de O. Assis, coordenadora dos cursos de Pós-Graduação da Faculdade de Goiânia



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