Fundos de pensão: protestos afugentam investimentos em infraestrutura

Os protestos de rua acenderam o sinal vermelho para os investimentos em infraestrutura. O alerta foi dado pelo presidente da Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar (Abrapp), José de Souza Mendonça, durante o 34º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, em Florianópolis (SC).

Mendonça disse que o risco de se aplicar em infraestrutura é muito grande pelas constantes mudanças de regras impostas pelo governo. Ele lembrou o fato das recentes manifestações populares, que resultaram em redução na tarifa de pedágio de rodovias. “Fundos de pensão têm que investir em áreas de baixo risco”, diz José Mendonça. “Para mim, infraestrutura é de alto risco. E, principalmente, não vejo segurança jurídica nos contratos de infraestrutura”.

Os fundos têm hoje R$ 12 bilhões para investir, dinheiro de milhões de brasileiros que sonham com uma aposentadoria tranquila. Mas dizem que, não importa a rentabilidade, é muito arriscado investir em ações como o programa federal de concessões da presidente Dilma Rousseff, que espera atrair R$ 133 bilhões para novas rodovias e ferrovias.

As licitações foram estimuladas pelo Programa de Investimento em Logística (PIL). O programa foi lançado em agosto do ano passado, numa tentativa do governo de atrair os investidores privados. Mudanças recentes na remuneração dos projetos tornaram as licitações ainda mais atrativas.

Fundos noiva

Mas a criação dos chamados “fundos noiva” – que concederão uma espécie de dote reembolsável às concessionárias – revela que o próprio governo não se convenceu de que os termos oferecidos bastarão para conquistar os investidores.

“Não vejo aplicação que justifique o risco que se corre (...) Isso é mais pressão política do que desejo dos fundos”, completou o presidente da Abrapp, numa referência ao “fundo noiva”, em que a Petros e a Funcef se comprometeram com a CEF, o BB Banco de Investimento e a BNDESpar em aportar até R$ 12 bilhões nos consórcios vencedores de licitações de rodovias e ferrovias a serem feitas pelo governo. “As associadas que estudam investimentos em infraestrutura tem as suas razões para fazê-lo e profissionais qualificados para avaliar as diferentes opções”, disse Mendonça, baixando o tom da crítica.

“A Abrapp jamais as criticaria por isso, como de resto a qualquer outra entidade por outro investimento que esteja pensando em fazer”, completou, acrescentando que a alocação de recursos é questão sobre a qual cabe apenas às filiadas decidir, sem interferências da entidade.

Mendonça disse ter certeza de que nenhuma associada se curvaria à uma eventual pressão política em favor de um ou outro investimento, seja em infraestrutura ou qualquer outro. “Para as entidades na hora de investir importa apenas averiguar a rentabilidade e a segurança contratual, entre outros aspectos aos quais os investidores precisam estar atentos”.

O presidente da Abrapp lembrou inclusive que “investimentos em infraestrutura atendem a um aspecto interessante para os fundos de pensão, uma vez que são alocações de longo prazo, algo que casa com a característica que as entidades têm de ser investidoras de horizonte mais dilatado”.

 



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