Aposentadoria tranquila depende de investimento e planejamento financeiro

Thaís Restom, do Portal Previdência Total

Poupar ainda não é uma preocupação para a maioria dos brasileiros próximos da aposentadoria. Essa é a constatação de um estudo global feito entre agosto e setembro de 2014 pelo banco HSBC com 16 mil pessoas em 15 países. No Brasil, o levantamento foi realizado com 1.001 cidadãos aposentados e em idade economicamente ativa (25 anos ou mais).

Segundo a pesquisa, 53% da população brasileira não estão economizando nem pretendem começar a poupar exclusivamente para o período em que vai deixar o mercado de trabalho. Diversos fatores explicam a falta de poupança, como o desemprego (35%), compra de imóvel (28%), crise econômica global (27%), contratação de dívida (26%) e a educação dos filhos (21%).

Dados de novembro do ano passado da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) também reforçam a percepção de que o brasileiro não guarda dinheiro para usar no futuro. Segundo a entidade, 68% das famílias brasileiras não têm como prioridade poupar uma parte dos rendimentos para possíveis eventualidades.

O educador financeiro Reinaldo Domingos, presidente da Associação de Educadores Financeiros (Abefin), acredita que esse cenário pode mudar caso o hábito de economizar comece a ser transmitido pelos pais logo na infância dos filhos. “Com isso, essas crianças quando adultas poderão já ter sua aposentadoria garantida aos 35 ou 40 anos de idade”, diz.

Ajuste fiscal

O Governo Federal adotou recentemente uma série de medidas fiscais para reequilibrar as contas públicas, como o reajuste da alíquota do PIS/Cofins sobre a importação, o restabelecimento do imposto sobre operações de crédito de pessoa física, a alteração da incidência do PIS/Cofins e Cide sobre combustíveis etc.

Para o economista Francisco Cintra, do Portal ZenEconomics, o ajuste fiscal do Governo tende a desacelerar ainda mais a economia e impulsionar a poupança no longo prazo. “Diversos setores devem reduzir a capacidade produtiva e o número de trabalhadores efetivos. Com isso, há uma boa probabilidade de um aumento razoável na taxa de desemprego, o que incita as pessoas a pouparem mais para um período de dificuldades”, afirma.

Por outro lado, Cintra ressalta que uma parcela expressiva da população brasileira tem endividamento elevado, comprometendo parte considerável da renda. “A capacidade para poupar buscando benefícios financeiros de longo prazo se torna algo desafiador e viável apenas em um segundo momento”, avalia.

Previdência Social

Estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que, nos próximos 20 anos, a população brasileira acima de 60 anos vai mais do que triplicar, passando dos atuais 26,1 milhões (13% da população) para 88,6 milhões (39,8%).

A expectativa média de vida passará dos atuais 75 anos para 81 anos. E, enquanto a esperança de vida aumentou para os mais idosos, a taxa de fecundidade caiu 26% nos últimos 14 anos no Brasil, passando de 2,39 filhos por mulher para 1,77, entre 2000 e 2013.  

Essa nova demografia brasileira requer um planejamento do Poder Público para sustentar a previdência, já que mais pessoas estarão necessitando dos benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), enquanto menos cidadãos estarão contribuindo para manter o sistema em funcionamento.

Para Marcelo Caetano, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), as recentes medidas adotadas pelo Governo Federal para reformar alguns benefícios da Previdência Social, como a pensão por morte e o auxílio-doença, terão efeito positivo no longo prazo no que se refere à manutenção da estrutura previdenciária pública. “Porém, essas reformas ainda são insuficientes. No caso das pensões por morte, tem muita coisa que ficou de fora, como, por exemplo, a questão do militar, funcionário público de estado e município, e a possibilidade de se acumular aposentadoria com a pensão por morte”, alega.

Caetano é a favor das mudanças feitas nos benefícios sociais, e afirma que ainda serão necessárias outras rodadas de reforma. “O que foi decidido está na direção correta para tornar o sistema mais sustentável a longo prazo e irá corrigir distorções. Esses ajustes foram feitos para o Brasil se adequar às regras internacionais”, acredita o pesquisador.

Previdência Privada

As incertezas sobre o futuro da Previdência Social podem estar contribuindo para o aumento de investimentos em planos de previdência privada. Dados da FenaPrevi mostram que a captação líquida nos planos privados (diferença entre arrecadação e resgates) fechou novembro de 2014 com saldo positivo de R$ 5,6 bilhões contra R$ 3,9 bilhões no mesmo mês do ano anterior.

No acumulado de janeiro a novembro de 2014, as contribuições feitas para a previdência privada somaram R$ 72,4 bilhões, alta de 11,13% frente aos R$ 65,2 bilhões registrados no mesmo período em 2013.

Gustavo Lendimuth, superintendente de previdência privada do Santander, afirma que a expectativa para esse ano é superpositiva. “O nosso objetivo é crescer em um patamar acima do mercado, justamente porque acreditamos que hoje temos uma participação abaixo do que deveríamos em previdência. O ano de 2014 foi bom para a retomada do crescimento do setor, e por isso nossas expectativas são as melhores para 2015”.

O superintendente de produtos da Brasilprev, Guilherme Rossi, explica que os fundos que compõem a carteira de investimentos de previdência da empresa atendem diversos perfis. “Temos hoje desde fundos extremamente conservadores, alocados em renda fixa, passando por outros fundos de renda fixa um pouco mais moderados, até os fundos compostos, que são aqueles que têm juntos na carteira a renda fixa e variável”, observa.

Dívidas

A pesquisa do HSBC revela também que a contração de dívidas dificultou a acumulação de uma reserva financeira para 26% dos brasileiros próximos da aposentadoria. Porém, em 2015, o endividamento da população recuou. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que 57,5% das famílias estão endividadas em janeiro desse ano, ao contrário dos 59,3% observados em dezembro de 2014.

Para o economista Erick Thau, da Técnica Finance Advisory e da Salix Group, o segredo para não acumular dívidas é o planejamento familiar de todas as saídas e entradas de caixa. “Neste sentido, recomendo que as despesas sejam divididas entre fixas, como, por exemplo, plano de saúde, água, luz e escola, e supérfluas, como gastos com restaurante, cinema, e outras atividades de lazer”, orienta.

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