Falta de planejamento e a aposentadoria do brasileiro
Murilo Aith*
O brasileiro não planeja a aposentadoria. Essa foi a constatação de uma pesquisa, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) indica que oito em cada 10 brasileiros (80%) admitem que não estão se preparando para a hora de se aposentar. Apenas 20% dos não-aposentados entrevistados afirmara que têm se preparado para ter um futuro mais tranquilo. O principal motivo para este alto índice, é a questão cultural de não criar o hábito de se programar financeiramente a longo prazo.
Os dados da pesquisa confirmam que, culturalmente, o brasileiro deixa para resolver seus assuntos financeiros na última hora. Infelizmente, quando falamos em aposentadoria esta atitude pode trazer prejuízos financeiros que muitas vezes podem ser irreversíveis. O ideal é que as pessoas comecem a pensar na aposentadoria, o mais cedo possível.
Ainda de acordo com o estudo do SPC, entre os que não se preparam para a aposentadoria, 47% afirmam que não sobra dinheiro no orçamento e 22% que estão desempregados. Outros 19% já começaram a guardar dinheiro com esse objetivo, porém não conseguiram continuar devido a problemas financeiros e 12% têm outros planos e prioridades.
Já entre os que começaram a se preparar, mas pararam de guardar dinheiro, os principais motivos foram os problemas financeiros (36%), desemprego (35%) e imprevistos pessoais e/ou familiares (29%). Entre estes entrevistados, 22% ainda têm o dinheiro, enquanto 77% já não têm mais - o dinheiro foi utilizado principalmente para pagamento de dívidas (52%), tratamento de saúde (17%) e compras (13%). A maioria dos que pararam de guardar dinheiro para a aposentadoria pretende voltar (92%), no entanto, 52% ainda não tem uma data definida para isso.
Importante ressaltar que, apesar das dificuldades, o brasileiro não deve desistir de uma aposentadoria por conta do tempo que falta. O tempo vai passar de qualquer forma.
A contribuição mensal para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) é fundamental para que o cidadão tenha acesso aos benefícios previdenciários, inclusive a aposentadoria. Os especialistas recomendam que o trabalhador, mesmo o informal, não deixe de contribuir para o sistema previdenciário.
É importante que o cidadão esteja vinculado ao sistema previdenciário, ou seja, que contribua com a Previdência Social. Este é o primeiro passo. Esse conselho serve não só para os jovens que entram no mercado de trabalho, mas também para as pessoas de mais idade que, muitas vezes, deixaram de recolher por algum motivo e precisam recolher para ter direito ao benefício da aposentadoria seja ela por idade ou por tempo de contribuição. Até mesmo as donas de casa podem se aposentar, mas para isso é necessário contribuir.
O segundo passo é saber quanto pagar. Isto porque muitos pagam um valor maior achando que vão se aposentar melhor e, por desconhecerem a legislação e os redutores acabam aposentando com um valor a quem do esperado. Por esta razão, é fundamental que o segurado faça um planejamento de aposentadoria. Assim, saberá exatamente quanto deve pagar e qual o momento para se aposentar buscando o benefício mais vantajoso.
Outro fator que alerta o brasileiro para a necessidade de um planejamento para a aposentadoria é a discussão criada pela reforma da Previdência. A proposta da equipe econômica do presidente Michel Temer era de estipular uma idade mínima – 65 anos para homens e 62 para as mulheres – para dar entrada no pedido de aposentadoria, além de um tempo mínimo de 15 anos de contribuição para o INSS. E apesar de não ter sido aprovada pelo Congresso Nacional, a possibilidade regras mais rígidas acelerou o processo de aposentadoria de milhares de brasileiros.
Isso porque, com medo dos efeitos da possível alteração das regras previdenciárias, muitos brasileiros se precipitaram e correram para as agências do INSS para garantir um benefício. Infelizmente, uma aposentadoria pedida de forma errada e sem o auxílio correto, causa prejuízos financeiros. Por esta razão, mesmo diante de um cenário de mudanças a recomendação é cautela.
Acredito que uma reforma é necessária, contudo, com discussão, sem terrorismo, e com lei justas que não retirem direitos sociais. Os principais pontos para serem discutidos correspondem as dívidas das maiores empresas do país com o INSS e a DRU, que permite que o Governo utilize o dinheiro da Previdência para outros fins
*Murilo Aith é advogado de Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados