Fila do INSS volta a crescer e atinge 2,6 milhões de pedidos represados
Caio Prates, do Portal Previdência Total
A fila de espera por benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) alcançou 2,6 milhões de requerimentos em agosto deste ano, segundo o boletim Transparência Previdenciária, do Ministério da Previdência Social. O número mais que dobrou em relação ao mesmo mês de 2024, quando 1,1 milhão de segurados aguardavam aposentadoria, pensão ou auxílio. Na comparação com julho de 2025, o aumento foi de 4%, com acréscimo de 65.238 pedidos. O tempo médio de concessão ficou em 42 dias. A maioria das solicitações está em análise pelo INSS ou depende de perícia médica.
Os especialistas em Direito Previdenciário destacam que esse novo crescimento da fila acende o farol vermelho para o sistema previdenciário brasileiro e preocupa segurados e segurados que aguardam o acesso aos benefícios para garantir uma melhor qualidade de vida. A escalada começou em dezembro de 2024, quando a fila superou 2 milhões, e atingiu o ápice em março deste ano, com 2,7 milhões de pedidos — o maior patamar desde 2019.
"A demora atual não é apenas uma questão burocrática, mas uma crise social e econômica que afeta milhões de brasileiros. Esse aumento da fila do INSS reflete diversos fatores que prejudicaram a vida do segurado nos últimos meses: a greve de servidores, as paralisações de médicos peritos e os problemas técnicos no sistema do INSS", afirma o advogado Ruslan Stuchi, sócio do Stuchi Advogados.
Para o advogado Celso Joaquim Jorgetti, sócio da Advocacia Jorgetti, a prioridade do INSS deveria ser agilizar o estoque de benefícios por incapacidade. “Esses são benefícios que exigem perícia médica e a apresentação de uma série específica de documentos, como laudos médicos que comprovem a causa do problema de saúde, o tratamento indicado e o período sugerido de afastamento do trabalho, além de receitas e exames. Um dos grandes problemas é que nem sempre esses documentos são considerados pelos peritos do INSS. A demora na realização das perícias médicas faz com que os segurados dependam da ajuda de terceiros para sobreviver”, observa.
Stuchi, avalia que a demora não prejudica apenas o segurado, mas também o próprio Estado. “Se houvesse um fluxo mais eficiente e menos burocrático, essa situação poderia ser amenizada, garantindo mais justiça social e desafogando o Judiciário”, diz.
Segundo ele, a morosidade leva segurados ao endividamento e à vulnerabilidade social. “Sem o benefício, muitos acumulam dívidas e dependem de terceiros para sobreviver. Como última alternativa, recorrem à Justiça, o que sobrecarrega ainda mais os tribunais e retarda a concessão dos valores”, pontua.
Erro de documentação é trava
Além da morosidade administrativa, especialistas ressaltam que falhas na documentação são um dos principais entraves para os segurados do INSS. O advogado João Badari, sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados alerta que o segurado deve ter atenção redobrada ao solicitar benefícios como auxílio-doença, pensão por morte e auxílio-acidente. “Na maioria dos casos, o erro do segurado ao solicitar o benefício é o principal problema, superando a morosidade do INSS. A falta de documentos no pedido e os dados divergentes no CNIS lideram a lista de problemas que travam a aposentadoria no país”, explica.
Badari orienta o segurado ou segurada a checar e corrigir divergências no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). “É importante comparar os vínculos e salários de contribuição com a carteira de trabalho. Podem estar faltando períodos ou recolhimentos menores do que o devido. Essa checagem pode reduzir o risco de entrar na longa fila”, frisa.
Os segurados podem verificar se há dados divergentes ao acessar o portal meu.inss.gov.br, criar uma senha e clicar no link do CNIS. É possível comparar as informações da página com as da carteira de trabalho. “Importante sempre comparar tanto os períodos dos vínculos de trabalho quanto os salários de contribuição. Podem estar faltando períodos ou o recolhimento ter sido menor. O segurado deve estar atento a toda documentação e tentar reduzir o risco de ingressar nessa longa fila”, aconselha Ruslan Stuchi.
Medidas emergenciais e perspectiva
O governo federal tenta conter o represamento com mutirões e programas de produtividade. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou em setembro a lei que concede bônus a servidores do INSS — R$ 68 por processo analisado e R$ 75 por perícia. O objetivo é reduzir em até 45 dias o tempo de análise de aposentadorias, auxílios e pensões.
O INSS informou que, apenas em agosto, foram pagos 41,4 milhões de benefícios, somando R$ 83,7 bilhões. O auxílio por incapacidade, antigo auxílio-doença, lidera o ranking de concessões.
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